fechar
Acessibilidade (0)
A A A

Escolha o idioma

pt
atualidade_2488341014fa3f4a8ab7a2.jpg

Visita Técnica ao Submarino NRP Tridente

por Eng. Pedro Ponte, Coordenador do CRC Sul de Engenharia Naval

17 de Outubro de 2012 |


No passado dia 11 de outubro, um grupo de 30 membros da Ordem dos Engenheiros teve a oportunidade de visitar o Submarino NRP Tridente, no âmbito de uma Visita Técnica promovida pelo Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Naval.

O grupo foi recebido na Base Militar do Alfeite pelo Comandante da Esquadrilha de Submarinos da Marinha Portuguesa, que numa breve sessão apresentou a história e atividades da Esquadrilha. O programa prosseguiu com a visita guiada ao interior do submarino.

A importância da arma submarina foi bem evidenciada na apresentação efectuada pelo Comandante da Esquadrilha, CFR Silva Gouveia, uma vez que a vastidão da área marítima sob soberania nacional obriga à existência de uma dissuasão eficaz que só a capacidade de dissimulação do submarino, conferida pela sua capacidade de se manter em imersão durante longos períodos de tempo e pelo seu poder destruidor, em contraponto com a impossibilidade de garantir a cobertura eficaz de tal área com meios de superfície.

Os submarinos da classe Tridente são, no presente, dos melhores submarinos convencionais do mundo, tão bem equipados quanto os seus congéneres de propulsão nuclear. Foram construídos pelos estaleiros HDW em Kiel, na Alemanha. São uma variante aumentada do tipo U209, deslocando cerca de 2000 ton. Têm a capacidade de lançar os torpedos pesados Black Shark e mísseis Harpoon, quer para ataque contra navios quer para ataque contra terra, sendo o míssil capaz de penetrar várias dezenas de quilómetros no interior da costa e atingir um alvo com uma precisão de poucos metros. Os torpedos são filoguiados tendo um alcance de cerca de 40 Km. O torpedo tem um sonar activo podendo ele próprio fornecer informação sobre o alvo durante o trânsito. A propulsão é assegurada por um motor eléctrico de corrente alterna de íman permanente, alimentado por dois grandes grupos de baterias carregadas, a navegar, por grupos electrogéneos diesel que podem funcionar mesmo em imersão desde que o submarino navegue à cota periscópica o que lhe permite através do mastro "snorkel” (inventado pelos alemães na 2ª guerra mundial) aspirar o ar necessário à combustão. Em imersão profunda as baterias são carregadas pelo sistema AIP (Air Independent Propulsion) em que através da combinação de oxigénio e do hidrogénio numa célula especial (fuel cell) é gerada energia eléctrica. O oxigénio é armazenado no interior do casco resistente sob a forma líquida e o hidrogénio é armazenado em reservatórios formados por um composto de alumínio que tem uma enorme capacidade de absorção de hidrogénio, permitindo assim o seu transporte em segurança. Quando os reservatórios são moderadamente aquecidos (40ºC) o hidrogénio liberta-se sendo conduzido para a célula.

O navio tem uma enorme panóplia de sensores activos e passivos (sonares, periscópios ópticos e optrónicos e capacidade de escuta e recolha de informação em vários espectros (electromagnético e, naturalmente, acústico). A análise dos dados recolhidos permite, por exemplo, o registo da "assinatura acústica” de navios que ficam assim identificados e referenciados em futuros encontros. Foi evidenciada a enorme capacidade de recolha de informações sobre tráfego de navios e embarcações, obtida de forma discreta, em imersão, e o enorme potencial que esta capacidade tem na detecção de comportamentos ilícitos. Todo o sistema de comando e operação do navio pode ser monitorizado e actuado a partir de consolas gráficas, permitindo o arranque e paragem de equipamentos, abertura e fecho de válvulas, consulta e registo de níveis de fluídos, etc..

Finalmente foram mostrados os diversos sistemas de segurança do navio, desde a antepara resistente que permite a separação do navio em duas áreas estanques entre si, até aos sistemas de evacuação livre ou por acoplamento a um DSRV (Distress Submarine Recovery Vehicle), que não é mais do que um pequeno submarino que, acoplando a uma escotilha do Tridente, permitiria a evacuação da sua guarnição.

Muitos outros interessantes pormenores técnicos foram revelados, mas o limitado espaço desta crónica não permite a sua publicação. Ficou na retina a exiguidade dos espaços, repletos de equipamento, a lembrar os velhos "Albacora”, excepto que agora tudo é muito mais sofisticado e complexo, com uma incorporação de electrónica e automação que nada tem a ver com os anteriores submarinos.

A OE agradece à Marinha e à ES (Esquadrilha de Submarinos) a forma como fomos recebidos, numa visita fascinante que a todos agradou e onde é bem visível a multidisciplinaridade das tecnologias envolvidas (naval, electricidade e electrónica, mecânica, materiais, química, ambiente, geográfica e até civil, se pensarmos nas infra-estruturas portuárias necessárias para o apoio aos submarinos). Uma manhã bem passada. Bem hajam os homens e mulheres do botão de âncora.

Parceiros Institucionais