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“O ideal seria os políticos ouvirem os engenheiros antes de decidir”

Carlos Mineiro Aires será o anfitrião da Conferência hoje sobre o papel da engenharia e as alterações climáticas

06 de Julho de 2018 | Geral


















Entrevista: Francisco Cardoso
Foto DR/Paulo Neto


"Entre as 9h00 e cerca das 18h00 de hoje, a Ordem dos Engenheiros - Região Madeira organiza uma conferência sobre "O papel da Engenharia na adaptação às alterações climáticas”, a decorrer no auditório do Museu Casa da Luz, reunindo em debate vários especialistas e técnicos visando trazer para a opinião pública um contributo essencial na prevenção de riscos, abordando as estratégias, a visão, as medidas, a gestão, a tecnologia, a meteorologia, as comunicações, entre tantos outros. A abrir os trabalhos estará o bastonário da Ordem dos Engenheiros, num evento em que participarão dois secretários regionais (Susana Prada e Amílcar Gonçalves). O responsável máximo da Ordem, Carlos Mineiro Aires, aponta os aspectos a considerar no debate.

A que se deve a realização desta conferência na Madeira? 
A Ordem dos Engenheiros decidiu declarar 2018 como o Ano das Alterações Climáticas e, nesse sentido, temos levado a cabo uma série de conferências e outras iniciativas, um pouco por todo o país. E agora chegou a vez de ser na Madeira. Este ciclo de conferências insere-se num conjunto de preocupações, mais do que legítimas, que os engenheiros hoje têm em relação á questão das alterações climáticas e ao futuro da nossa casa global, que é a Terra.

A Madeira, por ter a particularidade de ter uma larga experiência de desafio à natureza, faz todo o sentido debater alguns temas, sobretudo com os novos desafios das alterações climáticas? 
Há novos desafios, sem dúvida, porque o mal está feito. Mesmo aqueles que não acreditam nas alterações climáticas, acabam por reconhecer, directa ou indirectamente, que há consequências. Aliás, acho que um dos grandes contributos para esta causa é aquela arrogância e postura ignorante do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acabou por dar razão a todo o mundo e todos ficaram a olhar para as alterações climáticas com uma preocupação efectiva, com a qual só não se preocupa esse senhor. Neste momento, atendendo a que o mal está feito, temos aqui desafios novos. Um é tentar evitar e começar a mitigar o que está já a acontecer e o outro, que é um desafio novo, tendo em conta que não é possível reverter o que está a acontecer, passa pelas adaptações. Temos, portanto grandes desafios: acompanhar o que está a acontecer, procurar diminuir as consequências e tentar adaptar ao que já não é possível reverter. Sobretudo nestas duas, é sem dúvida um trabalho para engenheiros, mas também para a investigação e a ciência, que têm de dar um contributo muito grande nessa matéria.
No caso da Madeira, tal como tem ocorrido em território continental, tem exemplos bem recentes dos aumentos da frequência e periodicidade de eventos extremos e, portanto, temos de estar cada vez mais preparados e atentos ao que cada um, à sua medida, acabou por causar.

Nesse particular, refere-se a erros cometidos no desenvolvimento da Madeira? 
Em concreto, só não vê quem não quer. Na Madeira, tal como em muitos outros lados - no continente há muitos mais exemplos -, houve efectivamente erros na ocupação do território, porque se foi permitindo construir, uns mais por necessidade, outros por ignorância e outros por um certo laxismo, em determinadas zonas em que, quando agora há eventos extremos, as construções estão muito mais expostas e vulneráveis. Não sou daqueles que acha que estamos num caminho apocalíptico. Não defendo essa visão, mas sou dos que estão preocupados com o que está a acontecer. Temos todos de estar e a Ordem dos Engenheiros tem a obrigação de alertar a sociedade e fazer ver aos nossos cidadãos os problemas que existem na nossa terra e em todo o mundo. Afinal de contas, o que fizermos hoje aqui é um contributo para o global, bem ou mal. Recordo que Portugal é, actualmente, responsável apenas por 0,1% das emissões poluentes (gases com efeito de estufa), mas se todos dermos um contributo à medida de cada um , para minimizar essas situações, obviamente que o contributo global será atingido mais rapidamente.

Espera que deste debate e reflexão surjam ideias para que, no futuro, não se cometam tais erros? 
Entre os convidados, teremos o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, que fará um enquadramento em relação à matéria e, obviamente, cada um dos outros interventores vão analisar o contexto regional nas suas áreas de actuação. Vejo com agrado a presença e envolvimento dos políticos da Região Autónoma, porque significa que a conferência posiciona-se também no campo político, ou seja o das soluções e contributos que podemos dar para ultrapassar as situações criadas e, sobretudo, evitar que se criem novas.

Certamente que a decisão política é importante para que não se cometam erros? 
Se os políticos ouvissem mais os engenheiros, havia muita coisa que não era feita ou poderia ser feita de outro modo. Como bastonário e engenheiro tenho de ser crítico, pois pela minha experiência posso afirmar que sempre que os engenheiros são ouvidos atempadamente evitam-se muitas situações. Normalmente e infelizmente, procuram ouvir os engenheiros quando o mal está feito e quando as consequências já originaram efeitos desagradáveis e maus para os cidadãos. Procuram-nos mais para abafar as situações e não para antecipá-los. O ideal seria os políticos ouvirem os engenheiros antes de decidir."

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