fechar
Acessibilidade (0)
A A A

Escolha o idioma

pt
5898a80e56233bb2a3e7d468b7e5cd1e.jpg

História Breve da Engenharia Civil Pilar da Civilização Ocidental

Comentário a propósito da História Breve da Engenharia Civil
Pilar da Civilização Ocidental



A História da Engenharia Civil pode estudar-
se em campos diferentes, conforme as opções do historiador e os objectivos a alcançar. Assim, podemos seguir, ao longo do tempo, o progresso das Ciências e a evolução das Técnicas, que caracterizam e identificam a Engenharia Civil, ou escolher, nas várias épocas, as suas realizações práticas, postas ao serviço da Humanidade, ajudando a construir civilizações, particularmente a Ocidental.

A primeira das opções, pela especificidade e especialização nos domínios da História da Ciência e das Técnicas, é seguida por um número restrito de leitores. A segunda, no âmbito da cultura geral, sem perder a exigência
do rigor histórico e a ligação com a Ciência, visa um público amplo e diversificado. O Autor escolheu esta via, motivado pela sua própria formação profissional.

O livro começa por distinguir entre Cultura e Civilização. Aquela, manifesta-se abrangendo
os vários ramos do saber, da ciência, da técnica e das artes, exigindo esforço pessoal para a adquirir. A civilização liga-se às condições de vida material do mundo que nos rodeia, podendo cada um usufruir dos seus benefícios sem intervir na sua produção. Nascemos rodeados por uma civilização mas adquirimos cultura pelo esforço pessoal. Uma e outra interagem.

A partir dos engenhos e de saberes plurimilenários
alcançados no decorrer do tempo, com antepassados nos mestres e construtores da Antiguidade, Idade Média e Engenheiros Militares da Idade Moderna, cuja actividade não se identifica com os Arquitectos actuais, nasceu a Engenharia. Por fim, ganhou identidade o perfil profissional do Engenheiro Civil, em consequência da Revolução Industrial e dos avanços científicos dos séc. XVIII e XIX.

Em Portugal, o Decreto Orgânico de 13 de Janeiro de 1837, referendado por Manuel de Silva Passos, transformou a Academia Real da Marinha e Comércio do Porto, em Academia Politécnica, visando, segundo aquele Ministro, a necessidade de plantar as ciências industriais, que diferem muitos dos estudos clássicos e puramente científicos.

Na Academia funcionavam, entre outros, cursos de Engenharia de Pontes e Calçadas, mostrando influência da Escola de Paris com este nome. A reforma de 1885, na sequência
de um projecto de Lei apresentado nas Cortes, por Wencelau de Lima, criou, na Academia Politécnica do Porto, o curso de Engenheiros Civis e de Obras públicas, Minas e Indústrias.

Depois da Revolução de 5 de Outubro de 1910, a Academia Politécnica do Porto foi transformada em Faculdade de Ciências, tendo anexa a Escola de Engenharia que, em 31 de Agosto de 1915, se separou, passando a Faculdade Técnica. Em 1926, pelo Decreto n.º 12969 de 17 de Dezembro, transformou-
se em Faculdade de Engenharia. A 15 de Março de 1927, iniciou-se a construção do edifício próprio.

Em Lisboa, também na sequência da Revolução
de 5 de Outubro, foi criado, em 1911, o Instituto Superior Técnico, por Decreto de 23 de Maio, sob proposta de Brito Camacho, devendo-se a orientação ao Eng.º Alfredo Bensaúde, com formação nas Universidades de Hanôver e Götinga e portador de ideias novas na área da Investigação e da Tecnologia.
Os Engenheiros saídos do Instituto Superior Técnico e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto distinguiram-se pela qualidade da formação em consequência da exigência daquelas Instituições. Hoje, a multiplicidade e a diversidade de cursos de Engenharia exige que não se diminua a competência na formação dos Engenheiros.

O livro, acompanhado de desenhos e fotografias
adequadas, prossegue historiando a evolução da Engenharia a partir dos engenhos, desde a simples alavanca, à deslocação dos grandes blocos de pedra das construções megalíticas, caminhando ao longo do tempo e civilizações até aos nossos dias. Considerar obras de Engenharia as edificações pré-históricas e do mundo clássico, greco-latino, Idade Média e Moderna, antes da institucionalização universitária dos cursos de Engenharia não é despropositado, pois baseou-se em critérios, também seguidos lá fora, principalmente pelos historiadores anglo-saxónicos
e norte americanos, considerando as técnicas utilizadas como formas de Engenharia.
O exemplo da aplicação do número de ouro ao Panteão de Atenas, demonstra-o, no uso do cálculo matemático, geometria e acordo com as actuais leis da Física.

Estas conquistas alcançadas na construção civil influenciaram o modo de viver das sociedades
que as integravam, contribuindo para o avanço da civilização.

A construção de vias, pontes, aeroportos aproxima os povos, assim como os templos dedicados ao culto e os edifícios destinados ao desporto, ao teatro e ao lazer, as escolas e hospitais… E se hoje podemos falar de uma União Europeia e de uma Civilização Ocidental, isto é consequência da herança dos testemunhos materiais, erguidos ao longo dos tempos, com a intervenção da Engenharia
Civil.

Maria Fernanda Rollo
Professora do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa


Publicado na Revista Ingenium N.º 100 - Julho/Agosto de 2007

Parceiros Institucionais