A VISÃO DO PINTOR É UM NASCIMENTO CONTINUADO
Merleau-Ponty


A arte policromática de Baltazar atira-nos, num imediato olhar, para uma experiência insondável de silêncios sobre o Tempo - mas não uma experiência de contenção do Tempo, de finitude, de limite, porque não há um incidente do Tempo na paisagem, uma metamorfose do lugar. 

É antes um alfabeto plástico que constrói visões intemporais, estabelecendo microcosmos de inesgotável riqueza visual através de uma escrita fluente de contrastes de formas (luz/ sombra, alto/ baixo, cheio/ vazio, fundo/ raso) e, sobretudo, uma escrita vinculada pelo poder teleológico da cor. 

Tal poder atua no nosso espírito, na nossa sensibilidade, na nossa imaginação, na nossa memória com um denodado sentido poético, metafísico.

Nesse diálogo de formas e cores com as dimensionalidades do intangível entre cruza-se a presença densa, constante, por vezes discreta, mas sempre em quietude, dos azuis oceânicos - em todos os recantos dessa experiência do Tempo, em cada tela que contemplamos.

Rui Rocha