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A Transformação Digital. O que mudou e como se perspetiva o futuro depois da pandemia?

DIGITAL HUMANO

30 de Abril de 2020 | Geral







Após uma década de incentivo à digitalização, com alguns avanços interessantes no âmbito da modernização administrativa ou indústria 4.0, de súbito, um mês de COVID-19 fez atenuar exponencialmente uma das principais barreiras à digitalização: o fator humano.
Em poucos dias, todos deixamos de argumentar que não temos jeito para tecnologias ou computadores. Esse jeito ou falta dele, já não convence. A preocupação agora é outra: qual a forma mais rápida de nos tornarmos digitais.

Não deixa de ser impressionante ver como todos fizemos das videoconferências um acontecimento banal, ou como as inúmeras plataformas digitais começam agora a ser utilizadas e adaptadas às necessidades do nosso dia a dia. Com falhas, é certo, mas acima de tudo com um senso geral de que a digitalização é possível e que pode trazer inúmeras vantagens.
Claro, este contexto não é o melhor. Muitas famílias estão em teletrabalho e com crianças para cuidar, entre outras situações igualmente difíceis, o que gera algum desconforto relativamente à intensidade de trabalho, aparentemente criada pelo digital. Mas, para bem da economia, esta situação é passageira e ficará apenas uma sensação generalizada do contributo positivo das novas tecnologias.

O que é claro, é que a barreira criada pelo fator humano foi quebrada, elevando a importância do digital e tornando-o fator de maior resiliência coletiva, sustentabilidade ambiental e social.
Como muitas vezes tive a oportunidade de referir em relação à metodologia BIM (Building Information Modelling), o desafio da digitalização não é o software ou a sua implementação, o desafio é garantir que os processos que envolvem o utilizador são adaptados à nova realidade. O trabalho colaborativo online, por exemplo, tem de seguir regras e normas que até hoje eram diminuídas ou até dispensadas. A interoperabilidade, ou seja, a capacidade de dois ou mais sistemas comunicarem, deve ser garantida aos mais diversos níveis: semântico, tecnológico e de processo.

O fator humano tem ainda um impacto crucial quando pensamos na cibersegurança. Ouvimos nos últimos dias os diversos problemas com a invasão das videoconferências por estranhos, ou até mesmo o roubo de inúmeras contas pessoais, situações que criam sentimentos de insegurança e que prejudicam a adoção das tecnologias. São problemas reais, que têm de ser enfrentados, e o fator humano é aqui, mais uma vez, muito relevante. Para além de uma utilização apropriada das ferramentas digitais, os utilizadores devem perceber que a cibersegurança é uma problemática que só é atenuada com regras de utilização e preocupações que muitas vezes não temos no mundo físico. O mundo digital é inseguro e tem de ser encarado por todos com as devidas precauções. Especial atenção deve ser dada pela indústria, que deverá utilizar sistemas seguros e fiáveis, evitando soluções "home made”, que outrora seriam mais que suficientes.

A consciência sobre o que partilhamos e como partilhamos é crucial. A informação deve ser encarada como pacotes individualizados de informação que são partilhados com um objetivo e num determinado contexto, seguindo protocolos de partilha previamente definidos. Só assim conseguimos controlar e gerir a informação, de forma segura e inteligente.

Este momento de "alfabetização digital” acelerada surge numa altura de discussão de novos paradigmas digitais, em que a realidade tem um gémeo digital. Este é um desafio enorme para o ambiente construído, que urge abraçar. É importante que os atuais players evoluam e se adaptem rapidamente a novas realidades, garantindo assim o seu papel num futuro mais tecnológico e, certamente, mais desafiante.

Este momento difícil que vivemos servirá certamente para impulsionar a disseminação das novas tecnologias digitais, cabendo a toda a indústria a responsabilidade próxima de sustentar este momento de mudança, com iniciativas de consciencialização progressiva, sempre valorizando a importância do Digital Humano.



António Aguiar da Costa é vogal do Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Civil, é Professor auxiliar do Instituto Superior Técnico, Presidente da Comissão Técnica de Normalização BIM e Membro do Conselho de Administração da BuiltColab.

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