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Quarentena a Sul: Testemunho de Cristina Machado

16 de Abril de 2020 | Geral



Num contexto profissional absolutamente inédito em Portugal, em que as medidas de contenção do novo coronavírus demandam isolamento social e reajustamento das práticas laborais, fomos saber juntos dos nossos membros qual o impacto de toda esta situação no exercício da sua profissão de engenheiro. O primeiro testemunho pertence à engenheira civil, e Secretária do nosso Conselho Diretivo, Cristina Machado.

O que a Covid 19 mudou no meu dia a dia profissional?
As vidas de todos nós, humanos, mudaram de um dia para o outro com a presença deste coronavírus responsável pela Covid-19. Penso que as maiores alterações sentidas são ao nível da vida pessoal, pela obrigação do isolamento a que nos vimos obrigados. A nível profissional também muito se tem alterado, mas devido às tecnologias a que todos temos acesso, tem sido mais fácil do que ao início se supunha.

Tenho a sorte de trabalhar com colegas mais jovens que me têm ensinado a utilizar muitas ferramentas que nem sabia que existiam. Por um lado, o trabalho remoto a partir de um computador fixo no local de trabalho torna o trabalho mais lento, mas possível e, uma vez que não é necessário tempo para as deslocações, é possível fazê-lo.

Por outro lado, as reuniões, realizadas através do Skype, Zoom ou qualquer outro sistema, tornam-nos mais disciplinados, o que se traduz numa maior eficiência em termos de tempo. Cada um fala o estritamente necessário e procura fazê-lo da forma mais explícita com um dispendio mínimo de tempo. Isto torna o nosso tempo muito mais eficaz.

Quanto à minha atividade principal, que é lecionar num curso de Engenharia Civil, esta sim tornou-se um pouco mais trabalhosa, pois tenho de preparar todos os documentos para enviar antes aos alunos e depois acompanhá-los durante as aulas. Não tinha o sistema preparado para este tipo de ensino, por não ser aquilo a que estamos habitiuados a fazer nas nossas instituições. Talvez seja uma oportunidade de se fazerem aqui alguns investimentos que tornem o ensino mais amigável.

As aulas são dadas através do Zoom, que é uma plataforma bastante boa, até pela forma como se pode comunicar com os alunos, e como eles podem intervir sempre que necessário. Não a conhecia antes e também isso me levou a dispender mais tempo para aprender a utilizá-la e a tirar mais rendimento dela. Esta parte até tem sido agradável. Mantém-me o pensamento ocupado, o que neste momento é um privilégio.

Os alunos têm sido bastante assíduos e parecem acompanhar bem as aulas. Conseguimos ter um relacionamento próximo, tendo-me disponibilizado para que me possam contactar sempre que necessário. Os meus alunos são estudantes trabalhadores, que apesar de serem muito interessados e de trato muito correto, têm todas as dificuldades resultantes de terem de estudar sozinhos e de terem pouco tempo disponível. Também por isso a realização dos objetivos a que se propõem são para mim grandes vitórias.

Não sei ainda o que vai acontecer a este semestre letivo, mas de momento só estou interessada em lhes transmitir conhecimento e sentir que eles o adquirem. Não se sabe ainda como é que vai ser feita a avaliação, o que nos preocupa a todos, mas de momento estou a conseguir trabalhar de uma forma diferente, muito relaxada e bastante saudável.

Apesar de conseguir manter uma vida profissional, que para muitos admito que não seja possível, desejo que tudo retorne à normalidade rapidamente e com o mínimo de efeitos negativos a que não nos podemos esquivar.

E termino aqui com uma citação de Albert Einstein: "Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a maior benção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise se supera a si mesmo sem ter sido superado".




Cristina Machado

Secretário do Conselho Diretivo da Região Sul

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