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Entrevista ao segundo vencedor do Prémio Inovação Jovem Engenheiro 2019

31 de Julho de 2020 | Geral


Damos continuidade ao ciclo de entrevistas com os vencedores do PIJE 2019 com Francisco Saraiva, membro efetivo da Região Sul, agregado ao Colégio de Engenharia Mecânica, e segundo premiado (ex aequo), com o trabalho intitulado Desenvolvimento de um Processo de Pultrusão de Fibras Descontínuas para Produção de Granulados LFT.

- Fale-nos um pouco de si…
Engenheiro de 26 anos formado com uma licenciatura em Engenharia Mecânica pela Universidade Nova de Lisboa e Mestrado em Engenharia Aerospacial pela Delft University of Technology (TU Delft) na Holanda. Durante a minha licenciatura desenvolvi um gosto e aptidão nas áreas de Design, Manufatura e Materiais por estes três elementos estarem sempre interligados no desenvolvimento de produto, quer ele seja uma estrutura primária de um avião ou uma simples garrafa de água. Tendo ganho uma formação sólida durante a minha licenciatura em disciplinas como Cálculo Estrutural, Processos de Manufatura e Comportamento Mecânico de Materiais, decidi especializar-me na área de Estruturas e Materiais ligados ao setor Aerospacial. Aqui fui introduzido ao mundo dos materiais compósitos, materiais tipicamente constituídos por uma mistura de um polímero com fibras de reforço e utilizados em componentes estruturais devido à conjugação de elevadas propriedades mecânicas e baixa densidade. Foi durante o percurso do meu Mestrado, na elaboração da minha tese e no estágio profissional que realizei, que comecei a obter experiência prática no desenvolvimento e investigação de novos processos de manufatura para materiais compósitos. Nesta fase inseri-me no nicho de materiais compósitos com matriz termoplástica, onde investiguei e desenvolvi processos de estampagem. Estas experiências levaram-me posteriormente a começar a minha carreira na Coventive Composites, no Reino Unido, onde fui afortunado por me terem atribuído a confiança para liderar o design e desenvolvimento de um novo processo de manufatura para a produção de materiais compósitos destinados a serem usados em processos de injeção. Este foi certamente o maior desafio técnico e profissional que enfrentei até hoje e foram muitas as alturas em que questionei se os objetivos delineados conseguiriam ser atingidos. Felizmente, creio que não só os atingi como os superei, e tal não seria possível sem a cooperação e ajuda que recebi dos meus colegas de trabalho.

Para além das minhas experiências e paixões profissionais, fui jogador de ténis de competição entre os 10-18 anos de idade. Competi em torneios nacionais e alguns internacionais, tendo assim ganho um interesse especial pelo desporto. Admito que nunca fui bom o suficiente para sequer pensar seguir uma carreira na modalidade, no entanto, acredito que a disciplina, hábitos de trabalho e capacidade de resiliência que ganhei como jogador de ténis, contribuíram para que hoje consiga aplicar essa mesma atitude na vida profissional. Também acompanho outros desportos como Football e Formula 1. Adoro comer bem e por isso gosto de cozinhar em casa e ir a restaurantes. Tenho sorte de ter uma namorada que também partilha o gosto pela comida (e até pelos mesmos desportos que eu), o que nos motiva a viajar e conhecer novos países. Hoje, para além de me focar na minha carreira como engenheiro, também procuro educar-me sobre diferentes veículos de investimento financeiro, economia e finanças. Com isto, pretendo obter a educação financeira necessária que me poderá ajudar não só a aplicar o meu dinheiro corretamente, mas também a entender melhor a vertente financeira de qualquer negócio/empresa na vida profissional.

- Como é que a engenharia entrou na sua vida?
Nasci em Macau e vivi lá durante quatro anos fruto do trabalho do meu pai, Engenheiro Civil de profissão, que na altura encontrava-se a cargo de diversos projetos na região. Foi assim, desde cedo na minha vida, que também comecei a viajar de avião e a desenvolver uma grande paixão pela aviação. Essa paixão persistiu durante a minha infância e mais tarde na minha adolescência, altura em que já estava 100% decidido a prosseguir uma carreira como piloto comercial. No entanto, aos 17 anos de idade chumbei nos testes de admissão à escola de aviação por ser daltónico, o que me levou a repensar as minhas opções de carreira. Aqui creio que houve um conjunto de fatores que me levaram a optar por uma carreira em Engenharia. Primeiro, a minha paixão e curiosidade por não só aviões mas tecnologias em geral persistia, e para ser sincero, nunca me senti dotado nem motivado para envergar outra área que não fosse esta. Depois, creio que o facto de ter um pai Engenheiro Civil me serviu de exemplo como uma boa opção de carreira para seguir. Por outras palavras, foram muitas as vezes em casa que ouvia falar de pontes, estradas, túneis, portos, estações de tratamento de água e barragens, o que naturalmente me despertou uma curiosidade e interesse pela profissão. Assim, o meu interesse inerente por ciências e tecnologias aliadas ao exemplo do meu pai como Engenheiro de profissão e à minha paixão por aviação desde infância levou-me a escolher uma carreira em Engenharia, com a ambição de um dia poder contribuir para o desenvolvimento e/ou produção de aviões.

- Jovem, engenheiro, inovador e premiado. O que representa para si esta combinação?
Receber esta distinção da Ordem dos Engenheiros é bastante motivador. Para mim representa uma enorme satisfação não só a nível pessoal e profissional, como também demonstra o apoio que a Ordem dos Engenheiros nos oferece (engenheiros) a exercer a nossa profissão. No entanto, apesar de inovador premiado ainda sou um jovem engenheiro, o que significa que ainda tenho muito que aprender no exercício da minha profissão. A distinção que me foi atribuída demonstra que eu, com a ajuda e colaboração dos meus colegas de trabalho, desenvolvemos um trabalho sólido. Isso motiva-me a continuar a aprender e a explorar novas soluções para novos e velhos problemas, e se pelo caminho conseguir inovar e desenvolver novas tecnologias, tanto melhor. Se falhar, e hoje depois do desenvolvimento deste projeto entendo que as probabilidades de falhar são elevadas, ao menos que falhe a tentar o meu melhor e a aprender o máximo possível, porque esse também faz parte do trabalho e percurso de um engenheiro.

- Considera possível a implementação prática do seu projeto a médio prazo?
No projeto que desenvolvi consegui demonstrar e implementar um novo processo de manufatura para produzir granulados de materiais termoplásticos reforçados com fibras longas (i.e. 10-15 mm de comprimento). O projeto começou literalmente com uma folha em branco e uma área vazia em chão de fábrica para implementar a linha de produção, e terminou com uma linha piloto equipada capaz de produzir material a uma taxa de aproximadamente 8 kg/h. Assim, a implementação prática, ou comercial para produzir e vender materiais a clientes, é possível até mesmo a curto prazo. Agora, tenho que reconhecer que essa implementação a nível comercial e a curto prazo só será possível a clientes que queiram relativamente pequenas quantidades de material. Se entendermos por médio prazo um equivalente aumento da escala de produção por um fator de 2x ou até mesmo 3x, também estou confiante que, com os recursos financeiros necessários e a integração/colaboração de produtores de equipamento especializados, esse objetivo possa ser atingido.

- Em que medida a atual situação epidemiológica mundial afetou (ou continua a afetar) o exercício da sua atividade profissional?
À data desta entrevista, a atual situação epidemiológica mundial tem tido um efeito direto no exercício da minha atividade profissional. Por razões pessoais mas também profissionais, em Março de 2020 decidi embarcar num novo desafio numa empresa em Portugal. Devido ao facto da maior parte dos nossos clientes e parceiros serem de Espanha, o efeito da epidemiologia tem-se vindo a sentir internamente, principalmente no que concerne ao início de novos projetos que agora tiveram que ser adiados.

- Uma mensagem aos jovens engenheiros
Aos jovens engenheiros, quer aos que estão a sair da Universidade quer aos que começaram a atividade profissional há pouco tempo, estou certo que muitos sentem, e bem, que quanto mais sabem mais percebem que nada sabem. Referindo-me especificamente à minha experiência como Engenheiro de Desenvolvimento trabalhando em investigação, o nosso trabalho como engenheiros é pensar, testar e implementar soluções que sejam capazes de resolver problemas que, muito provavelmente, ninguém antes de nós resolveu. Essa tarefa acarreta os seus desafios e que nada nos garante que possam ser resolvidos, daí o nosso trabalho ser muitas vezes frustrante e ingrato pois ao longo do caminho havemos de tentar e falhar muitas vezes. É ao longo desse caminho que aprendemos mais, mas também que nos apercebemos que nada sabemos. Nestas alturas, e considero-as dolorosas, acredito que o trabalho em equipa, resiliência, foco e dedicação são os traços mais importantes para conseguir atingir os nossos objetivos. A ideia de que isto significa que teremos que trabalhar duas, três, quatro horas extra por dia todos os dias é errada, no meu ponto de vista, pois o nosso equilíbrio entre vida profissional e pessoal também é importante. No entanto, havendo um bom trabalho de equipa e mantendo o nosso foco, estou certo que as probabilidades de conseguirmos inovar são maiores. Quando falharmos, pelo menos saberemos melhor do que muitos as razões para que esse tenha sido o resultado e, refletindo, percebemos que aprendemos qualquer coisa.

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