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A engenharia e as relações universidade-empresa

A Engenharia e as relações Universidade-Empresa
Semanário Económico
Os recursos são escassos e as necessidades são enormes. Neste contexto, uma regra elementar na gestão racional dos recursos é a de que devemos aplicar os melhores recursos nas áreas de maior potencial. Se aceitarmos que a engenharia é uma fonte de recursos, aceitar-se-á que a sua aplicação às necessidades do País deve ser precedida de uma avaliação de mérito que permita a selecção dos melhores recursos e de uma identificação das áreas de maior potencial para o desenvolvimento do País.Ainda em resultado do último Congresso da Ordem dos Engenheiros, subordinado ao tema da importância da engenharia na competitividade, vem esta reflexão a propósito do ensino da engenharia, das relações universidades-empresas e do desenvolvimento do País.Nos últimos anos temos assistido a uma multiplicação de cursos de engenharia em muitas e variadas áreas. Existem em Portugal cerca de trezentos cursos com a designação de engenharia em múltiplas áreas do conhecimento, umas vezes por aprofundamento dentro de especialidades existentes, outras por cruzamento entre especialidades, outras ainda por identificação de novos domínios de intervenção. A primeira questão que se coloca é a de saber quais os critérios de racionalidade, se é que eles existiram, que estiveram na origem desta situação. Aquilo que poderia ser entendido como um sinal de vitalidade do ensino da engenharia numa antecipação às necessidades do desenvolvimento económico e social do País é, infelizmente, uma prova de má gestão de recursos. Muitos desses cursos não resistiram ou não resistirão ao «teste de mercado» e acabarão por definhar e desaparecer. Mas, de caminho, consumiram recursos e frustraram expectativas.Uma segunda questão prende-se com a qualidade dos cursos. Na verdade, destes cerca de trezentos cursos, menos de uma centena obteve a acreditação por parte da Ordem dos Engenheiros. Destes, existem muitos e estimulantes casos de excelência que colocam Portugal a par do que de melhor existe em todo o mundo. O mais grave é que a esmagadora maioria dos cursos não acreditados nem sequer solicitou a respectiva acreditação, num claro sinal de que os responsáveis por esses cursos têm consciência das suas insuficiências e preferem contornar todo e qualquer sistema de aferição de mérito.Não basta, pois, oferecer cursos em engenharia. É preciso, desde logo, pautar essa oferta por critérios de racionalidade e mérito. Racionalidade que a sustentabilidade dos cursos se deverá encarregar de reconhecer e o mérito que deve ser premiado.Finalmente, importa identificar quais as áreas de maior potencial para a criação de riqueza e desenvolvimento do País. Uma das melhores formas de o conseguir é através do estreitamento das relações e da aproximação universidades-empresas. Nesta aproximação, as universidades como centros de antecipação de recursos de saber e de competências e as empresas como centros de antecipação de necessidades, promove-se a boa utilização de recursos. Em países em que o número de grandes empresas é suficiente para que essas grandes empresas tenham um papel estruturante nas respectivas economias, essa aproximação faz-se naturalmente universidade a universidade, empresa a empresa.  Contudo, em Portugal, dada a quase inexistência de grandes empresas em sectores diversificados, a reduzidíssima dimensão das empresas nacionais e a pouca tradição existente nas relações universidade-empresa, esta aproximação terá que ser incentivada através de políticas sectoriais e regionais.Dadas as características do nosso tecido empresarial, não podemos esperar que dentro de uma muito pequena empresa de um qualquer sector de actividade ameaçado, nasça de forma espontânea a fórmula para uma revitalização ou uma reconversão quando esse potencial depende de conhecimentos científicos e tecnológicos inexistentes nessa empresa. A revitalização de sectores existentes, a reconversão de outros ou o surgimento de novos sectores de actividade, exige uma visão estratégica traduzida em políticas sectoriais e regionais. Dez anos decorridos após a publicação do relatório de Michael Porter sobre Portugal, vale a pena relê-lo... e reflectir sobre a sua actualidade.Pedro Sena da Silva
Vice-Presidente da Ordem dos Engenheiros

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