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ESPAÇO DE OPINIÃO | Os Desafios e as Oportunidades da Construção e do Imobiliário

20 de Outubro de 2020 |




"O setor da construção e imobiliário, para maximizar o seu valor e ganhar vantagem competitiva no mercado global, requer uma estratégia centrada em torno de 3 áreas-chave: investimento, internacionalização e inovação.", diz Bruno de Carvalho Matos


A construção, combinada com atividades relacionadas nas áreas do imobiliário, arquitetura e engenharia, equipamentos e materiais, representa para Portugal mais de 15% do PIB, cerca de 50% do investimento e 10% do emprego. Tendo também um importante impacto noutros setores, esta indústria é reconhecidamente um dos mais importantes drivers da economia portuguesa. De salientar a relação íntima e reciproca entre a construção e o setor financeiro, que estimula ambos através da concessão de créditos para financiar as empresas e a compra de imóveis, chegando a representar mais de 50% do total de crédito concedido por instituições bancárias.

Inversamente, o crescimento da indústria também está muito dependente da evolução do mercado a nível global. À medida que a economia retrai e os constrangimentos de crédito impactam o investimento, tende a nascer uma nova crise. Este facto ganha particular relevância na medida em que muitas empresas têm uma elevada alavancagem financeira e, frequentemente, enfrentam problemas de liquidez, por variados motivos como sobrecustos ou atrasos nos pagamentos a receber.

Por outro lado, a indústria da construção é altamente fragmentada - mais de 99% das organizações são PME, que empregam mais de 90% dos trabalhadores. Isto acontece devido a um conjunto de particularidades deste mercado, destacando-se: a variedade de necessidades e exigências; o elevado nível de customização dos produtos e serviços; a falta de economias de escala; as reduzidas barreiras à entrada; e a forte concorrência centrada em estratégias de preço. Por efeito, as empresas, que tendencialmente não têm escala para negociar competitivamente com fornecedores e clientes, evidenciam rentabilidades diminuídas.  

Em acréscimo, existem várias questões ao nível da produtividade, qualidade e segurança. Por tradição, a indústria tem um número significativo de trabalhadores de curto prazo e pouco qualificados, e muitas empresas não investem suficientemente em formação. Recentemente, a escassez de mão-de-obra especializada para os trabalhos de construção e o aumento dos custos de construção, sobretudo devido ao incremento dos custos de materiais e de mão-de-obra, reduzindo a rentabilidade do setor, têm sido também desafios maiores a considerar. 

O clima político e económico teve um impacto drástico na construção portuguesa entre os anos de 2002 e 2016, em que a indústria sofreu uma perda de produção acumulada superior a 50%. A recuperação do setor iniciou em 2017 com um crescimento que se espera continuar na próxima década, principalmente devido ao investimento público e privado nos setores das infraestruturas e residencial, respetivamente.

Posto isto, para responder aos diversos desafios do ambiente construído e para criar uma proposta de valor atrativa no mercado progressivamente globalizado da construção, desbloqueando ainda o seu poder catalisador da economia, a indústria da construção portuguesa requer uma estratégia centrada em torno de 3 áreas chave, que deverão ser facilitadas por um conjunto de condições:

1) INVESTIMENTO: mais investimento público em infraestruturas como medida fundamental para estimular a economia e, subsequentemente, incentivar o desenvolvimento do setor privado; mais estabilidade política e legal, incentivos fiscais e disponibilidade de crédito, considerando também o financiamento de bancos estrangeiros como alternativa aos bancos locais; menos burocracia e mais capacidade administrativa nos municípios, permitindo menos tempo dispendido na obtenção de licenças de construção e de utilização.

2) INTERNACIONALIZAÇÃO: mais apoios governamentais de incentivo à expansão das empresas portuguesas para novos mercados, além dos tradicionalmente conhecidos em África e na América do Sul/Central, incluindo a facilitação de sinergias e parcerias estratégicas entre organizações ao nível nacional e internacional.

3) INOVAÇÃO: maior diversificação da atividade das empresas como medida de redução do risco do negócio; mais investigação e desenvolvimento sobre novos materiais e tecnologias da construção e maior aposta na indústria 4.0 e na economia circular, promovendo, assim, mais eficiência, eficácia e sustentabilidade no ciclo de vida dos ativos.


Neste sentido, estará o contexto político, social e económico de Portugal preparado para reconhecer estas necessidades e avançar com as medidas certas, adotando uma abordagem Top-Down em que a ação governamental assume a liderança, de forma coordenada e sustentável?

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