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Delegação de Santarém promove visita técnica a Serra de Aire e Candeeiros

31 de Maio de 2019 | Geral


No passado dia 18 de maio, a Delegação Distrital de Santarém, com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, promoveu uma visita à Serra de Aire e Candeeiros, no âmbito de um conjunto de visitas técnicas e culturais que têm vindo a ser realizadas anualmente a esta serra.

Cerca de um quarto da população do planeta é abastecido de água proveniente das regiões cársicas. A Falha do Arrife é um dos principais acidentes tectónicos do Maciço Calcário Estremenho, marcando a fronteira entre a mais importante região cársica portuguesa e a Bacia Terciária do Tejo. Bem expressa na paisagem ao longo de vários quilómetros através de uma escarpa que muitas vezes se mostra imponente, é berço de vários cursos de água (perenes e temporários) onde se fixaram populações desde o Paleolítico Inferior à atualidade. A expressão máxima do uso deste recurso para abastecimento público encontra-se ilustrada na nascente do Rio Alviela, cuja captação forneceu água à cidade de Lisboa durante perto de um século.

Pontuada por alguns aspetos da ocupação humana da região, a proposta do PNSAC para a visita de 2019 centrou-se em alguns dos mais emblemáticos sistemas de abastecimento de água para fins industriais e urbanos, direta ou indiretamente, relacionados com esta fronteira geológica. Esta ação iniciou-se em Tomar, na Casa do Guarda, onde se encontra o Centro de Interpretação Ambiental da Mata dos Sete Montes, com uma exposição feita pela Cátia Pouseira. Seguiu-se um percurso pedonal pela Mata dos Sete Montes, vasta mancha verde, repleta de 39ha de história e com as palavras do florestal do ICNF Nuno Silva Marques sobre os Templários ao Século XVII.

O grupo de engenheiros partiu de seguida para o Aqueduto de Pegões, onde foram recebidos por Rui Ferreira Marques, em representação do Grupo de Amigos do Aqueduto do Convento de Cristo. Esta infraestrutura foi projetada no início do reinado de Filipe I com o objetivo de conduzir a água a partir de quatro nascentes diferentes, situadas nos arredores da cidade de Tomar, até ao convento. O aqueduto estende-se ao longo de cerca de seis quilómetros, sendo composto por um total de 180 arcos de volta perfeita, que na zona de maior declive, sobre o vale de Pegões, assentam num conjunto de 16 arcos quebrados. Nas extremidades da estrutura foram edificadas duas mães d'água, rematadas exteriormente por cúpulas, e que no interior abobadado albergam uma larga bacia destinada à depuração das águas.

A próxima paragem foi a Gruta das Lapas, em Torres Novas, onde foram recebidos por João Paulo Fernandes. Por baixo das casas e ruas típicas da aldeia das Lapas, a 2 km da cidade de Torres Novas, esconde-se um labirinto de galerias escavado na rocha. As grutas, que deram o nome à aldeia, são um conjunto de túneis subterrâneos, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1943. A rede de túneis percorria quase todo o morro onde está assente a povoação. Porém, apenas uma parte do percurso está acessível. A geologia do solo, calcário mole conhecido por "tufo", explica a relativa facilidade com que, em tempos, a mão do homem talhou esta singular preciosidade arqueológica.

A caminho do almoço, os participantes tiveram ainda possibilidade de conhecer Zibreira, uma freguesia do concelho de Torres Novas que tem como proximidade a Serra de Aire e o Arrife. A Escarpa dos Arrifes do Maciço Calcário Estremenho, segundo as explicações de Olímpio Martins, é "uma falha que segue no sopé da muralha do Dogger que, num recôncavo, guarda a exsurgência do Almonda, e mais para nordeste, por si e por acidentes satélites, dá origem a um teclado que se traduz no relevo por uma série de escarpas e esporões". Esta muralha continuada que delimita o Maciço Calcário Estremenho a sudeste e que "determina em alguns locais o cavalgamento de formações cretácicas e terciárias por calcários do Dogger, dão com os seus arrifes – íngremes escarpas de rocha nua – a primeira impressão de montanha a quem vem dos mornos relevos da vasta superfície ribatejana."

Os Arrifes, como são localmente conhecidos, designam uma imponente escarpa de falha, elevada acima da Bacia do Tejo por mais de 40 quilómetros de comprimento, que traduz a expressão morfológica da falha inversa que margina o bordo meridional do Maciço Calcário Estremenho. Uma escarpa de falha é aqui entendida como um relevo abrupto, um ressalto topográfico acentuado, com declive superior a 40°, resultante do deslocamento da superfície terrestre ao longo de uma falha geológica.

O grupo seguiu depois para os Olhos d'Água do Alviela, que correspondem à nascente do rio Alviela. É aqui que a água subterrânea brota à superfície num contacto litológico na transição das rochas do Maciço Calcário Estremenho e a Bacia Terciária do Tejo e do Sado. Os Olhos d'Água do Alviela é o mais importante fenómeno hidrocársico das Serras de Aire e Candeeiros, e de Portugal. A água nasce de forma inconstante ao longo do ano mas, no pico de cheia, no inverno, pode chegar a debitar 17 mil litros por segundo. Esta abundância de água não passou despercebida aos responsáveis pela gestão das águas em Portugal, e desde 1880 que foi utilizada para abastecer a cidade de Lisboa, através de um aqueduto. As duas cavidades de onde a água do Alviela brota são o local de entrada para um complexo de grutas subterrâneas submersas e onde espeleologistas experientes mergulham há anos. A gruta estende-se por, pelo menos, 120 metros. Estima-se que existam cerca de 180 km de cavidades subterrâneas em que o rio percorre um trajecto submerso. Há nascentes do Alviela que são temporárias, que funcionam especialmente na época de inverno, em anos de elevada precipitação. É o caso do Poço Escuro. O aquífero sob os Olhos d'Água do Alviela é dos maiores de Portugal e da Península Ibérica e constitui um importante reservatório de água doce no nosso território (provavelmente o maior).

A visita terminou com alguns membros a fazerem espeleologia.

A Delegação Distrital de Santarém agradece ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, nas pessoas do Olímpio e Maria João Martins, o apoio e colaboração na programação e acompanhamento deste evento.

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