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"Um país marítimo não pode abdicar de uma indústria naval"

17 de Agosto de 2011 | Engenharia Naval


Esta foi a opiniãoexpressa na sessão de encerramento do "IFórum Atlântico para a Inovação no Naval”, por Tiago Pitta e Cunha,membro da Casa Civil do Presidente daRepública. Da sua intervenção transcrevemos aqui alguns extractos:

"A crise económica e a falência do nosso modelo de desenvolvimento e, poroutro lado, o ressurgimento da exploração da nossa ligação ao mar devem servistos e aproveitados como uma oportunidade para as indústrias navais!Concretamente, num contexto de ressurgimento do mar, para as indústrias navais,onde podemos encontrar exactamente as oportunidades?

A nível internacional assistimos a cada vez mais globalização, o queimplica mais comércio internacional e, logo, mais transportes marítimos. Daquidecorrem grandes oportunidades para as indústrias navais que saibam sercompetitivas e simultaneamente suficientemente especializadas e diversificadas.

A este nível encontramos como factores de relevo a questão da protecçãoambiental, do clima, da penalização do transporte rodoviário, da promoção deprojectos como o dos clean ship, ou green vessels, da redução das emissõesdos navios e do apoio ao transporte marítimo de curta distância (short sea shipping).

Onde estão as oportunidades aqui? Elas estão no facto de que se aspolíticas públicas europeias começarem a promover mais o transporte marítimo decurta distância, então investir na frota europeia de transporte marítimo decurta distância é uma aposta certa. Esta frota é de todos os tipos deembarcação que perfaz a frota europeia, a mais obsoleta: a média de idade dosnavios ultrapassa os 20 anos e o problema existe tanto no transporte demercadorias, como de pessoas, dado que os barcos de transporte de passageiros,de curta distância, isto é, na sua maioria, os ferry boats, necessitam de ser substituídos ou no mínimomodernizados (retroffited).

Em bom rigor, poderíamos até pensar num programa comunitário que fossedesenhado para responder a este desafio, contribuindo para prosseguir osobjectivos de várias políticas europeias ao mesmo tempo. Imagine-se, assim, quese concedia aos armadores da frota europeia de transportes marítimos de curtadistância um subsídio destinado a mudarem de embarcações ou a modernizarem-nase que essa actividade deveria ser realizada apenas em estaleiros europeus,porque a substituição ou reparação dos navios teria de obedecer ao fabrico deembarcações mais limpas, que fossem de encontro ao projecto referido do clean ship.

À escala europeia, ainda se podem antever novas oportunidades geradaspelas dinâmicas associadas às políticas das energias renováveis, de que temresultado, em particular, o espectacular desenvolvimento da indústria eólica offshore; o interesse recente no fabricode plataformas offshore multiusos; oua tendência de obrigar ao desmantelamento de navios na Europa.

A nível nacional, iremos encontrar oportunidades no que se antevê será odesenvolvimento do turismo marítimo e da náutica de recreio. Trata-se de umagrande indústria europeia que vale 72 mil milhões de euros e a que Portugal sedeveria agarrar, uma vez que ela é ainda incipiente no nosso país. Ainda anível nacional, interessa igualmente renovar uma aposta na construção navalmilitar, que é uma carta sempre em cima da mesa, mas sempre adiada.

Outro aspecto importante é saber fugir aos grandes investimentos emcustos de capital inicial (custos de instalação), em infra-estruturas como, porexemplo, docas secas e equipamentos caros como guindastes. O país poderia aindavirar-se mais para a indústria de equipamentos marítimos, devendo o sector dasindústrias navais contribuir activamente para esbater a separação que existeentre indústrias navais e de equipamentos. Outra aposta que está por fazer éinvestir nas tecnologias subaquáticas e nos veículos subaquáticos, bem como naeducação e treino do seu uso).

Ou seja, o que daqui resulta é uma visão das indústrias navais, nãoapenas como as empresas de construção e reparação naval que são, mas comoempresas de todos os sectores ligados ao fabrico de plataformas para uso nomar, que incluam Engenharia e Arquitectura Naval. Por outras palavras, asindústrias do mar do futuro deverão ser as futuras oficinas do mar, no sentidomais abrangente possível desse termo.

Num contexto, tão abrangente, o que pode ou o que deve fazer umaAssociação das Indústrias Navais? Na minha opinião, deve continuar a tecer umarede cada vez maior, mas simultaneamente cada vez mais espessa, das indústriasdo sector e, no que me parece fundamental, das indústrias associadas. Uma redeque sirva dois aspectos fundamentais: contribua para aumentar a flexibilidadedos meios de produção do sector e para diversificar o seu produto final; epotencie o uso de capacidade instalada, de toda a capacidade instalada dosector em Portugal.

Se o declínio da ligação de Portugal ao mar foi também o declínio dasindústrias navais no nosso país, uma expansão (que hoje já é incontornável)dessa ligação ao mar deverá significar também uma expansão das indústriasnavais! Em conclusão, um país marítimo, como Portugal, não pode abdicar de umaindústria naval. Essa indústria é uma peça-chave para as demais indústrias domar e, por essa razão, é uma peça-chave da Estratégia Nacional para o Mar, quePortugal quer desenvolver.”

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