Há quem afirme que a responsabilidade das empresas é para com os seus accionistas e que, ao darem lucro, criam riqueza que beneficiará toda a sociedade. Outros defendem que o conceito de cidadania, como o conjunto de direitos e deveres face à sociedade em que se vive, se aplica a pessoas, não a organizações e que as empresas já "ajudam o mundo” dando emprego e fornecendo produtos e serviços aos seus clientes. Ainda há aqueles que consideram que a "politicamente correcta” responsabilidade social corporativa lhes permitirá ter melhor reputação e uma marca mais forte. Na Somague entende-se que todos têm razão.
Com efeito, pode-se afirmar que a primeira responsabilidade social de uma empresa é existir e progredir. Alinhar a estratégia com as preocupações e os valores da sociedade e operar de modo a cumprir, ou mesmo exceder, as expectativas éticas, legais e comerciais das partes interessadas da empresa é uma questão de bom senso e, acredita a Somague, só pode constituir uma vantagem competitiva e contribuir para o sucesso do negócio.
Não há receitas, contudo. Deve cada empresa identificar a estratégia nesta matéria que considera mais adequada. Também não se muda a cultura de uma organização da noite para o dia. Esta será talvez a explicação do mérito que tem sido reconhecido à Somague, onde há muito que conceitos como a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável foram encarados como novos desafios. O resto é simples, basta abraçar as oportunidades e tomar as decisões mais correctas, em sentido lato, em cada momento.
Cada empresa terá assim o seu percurso. Para ilustrar o da Somague, nos parágrafos que se seguem apresentam-se algumas das acções desenvolvidas, com especial enfoque nas mais recentes.
Modelo de GovernoA Somague, desde sempre, teve consciência do futuro. Em 1993, com a profunda reengenharia do funcionamento da empresa e a sua orientação por processos, foram revistos a missão, visão e valores, passando a incluir desde então a ética e a responsabilidade social.
![](/fotos/editor2/casos_estudo/2_108.jpg)
Desde 2003, essa preocupação veio a materializar-se em Relatórios de Sustentabilidade, que além de apresentarem o seu desempenho económico, social e ambiental, estruturam as directrizes estratégicas neste âmbito. Mais recentemente, foi definida a Política de Sustentabilidade e criado o Conselho de Sustentabilidade que, constituído por membros do Conselho de Administração, estabelece e revê a estratégia de sustentabilidade e garante os meios necessários à sua implementação.
A Somague, ao longo de 2008, definiu o seu Código de Ética e Conduta, no qual se estabelecem as directrizes que devem reger a sua conduta e a dos seus colaboradores. Especificamente para a Prevenção de Branqueamento de Capitais e Bloqueio do Financiamento ao Terrorismo, o Código é operacionalizado por um procedimento, que pretende assegurar eficazmente a identificação e o conhecimento dos clientes e que a actividade se realize em conformidade com as normas regulamentares.
Inovação![](/fotos/editor2/casos_estudo/3_108.jpg)
Num mercado cada vez mais exigente, a Somague entende que, no futuro, apenas sobreviverão empresas com um grande envolvimento na inovação.
Foi neste contexto que aceitou, em 2007, o desafio da COTEC Portugal e integrou o grupo de empresas piloto na definição e implementação de um Sistema de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação (SGIDI) de acordo com a NP 4457:2007, certificado ainda no mesmo ano.
Dos projectos-piloto do SGIDI, destaca- se o de "Aplicação de ASIC em Aterros”, que consistiu na utilização de escórias de aciaria (ASIC – Agregado Siderúrgico Inerte para a Construção) como material de construção de aterros na ligação ferroviária à Siderurgia Nacional.
![](/fotos/editor2/casos_estudo/4_108.jpg)
Neste projecto foram aplicadas 281.240 ton de ASIC, correspondendo a aproximadamente 100.000 m3, evitando deste modo o consumo de quantidade semelhante de recursos naturais.
Dos projectos de 2008, destaca-se a obra da "Ligação Ferroviária ao Porto de Aveiro”, que incluiu o desenvolvimento de um cimbre aéreo autolançável de vão duplo, em resposta às condicionantes da localização da obra (Zona de Protecção Especial da Ria de Aveiro) e do prazo para a sua execução.
SubcontrataçãoSendo o sector da construção caracterizado por elevada percentagem de subcontratação, a Somague assume a responsabilidade associada à cadeia de subcontratação, procedendo à classificação dos seus fornecedores, subempreiteiros e prestadores de serviços, com base na informação fornecida e na avaliação efectuada ao seu desempenho.
Com a entrada em vigor do Código de Ética e Conduta, previram-se acções para a promoção do seu conhecimento por estas entidades, com vista à amplificação da aplicação dos princípios nele contidos.
Qualidade de Emprego![](/fotos/editor2/casos_estudo/6_108.jpg)
Ano após ano, a Somague procura ser uma empresa melhor para trabalhar, facto comprovado pelos elevados índices de satisfação dos colaboradores e pela presença sistemática nos rankings das melhores empresas para trabalhar em Portugal.
A formação e desenvolvimento de competências são uma aposta constante, bem como novas ferramentas de formação, nomeadamente o b-learning (blended-learning), que permite reduzir as deslocações dos colaboradores, minimizando o tempo dispendido e as emissões de CO2 daí resultantes.
Em 2008, deu início a um novo Plano de Estágios para a Engenharia, admitindo 19 recém-licenciados em Engenharia Civil e Electromecânica. Para os novos estagiários é a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos e, para a empresa, a possibilidade de rejuvenescer os seus quadros, integrando novas competências e novas técnicas. Nesta aproximação a um público mais jovem, a Somague e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) celebraram um protocolo de dinamização conjunta do Programa Aprendizagem – Formação Profissional de Jovens, que até 2010 abrangerá cerca de 30 mil candidatos, com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos.
Outro aspecto considerado fundamental é conciliar a vida profissional com a pessoal, destacando-se as seguintes práticas:
– Horário comprimido;
– Dispensa dos colaboradores para resolução de assuntos pessoais/familiares;
– Rede de transporte para colaboradores na sede de/para diversos pontos de Lisboa;
– Acordo com creches nas imediações da empresa (comparticipação na mensalidade);
– Seguro de saúde (extensível ao agregado familiar), vida e acidentes pessoais;
– Acordos com redes de ginásios, extensíveis à família;
– Acordos com redes hoteleiras para uso pessoal dos colaboradores;
– Torneio de futsal;
– Encontros regulares de colaboradores.
Recentemente, implementaram-se o Portal do Colaborador e a Linha de Apoio ao Colaborador (LAC), com o objectivo de sistematizar a gestão da informação e agilizar o contacto com a Direcção Geral de Recursos Humanos, independentemente do local ou país em que se encontrem.
Igualdade de OportunidadeA Somague promove práticas em todos os locais onde opera no sentido de garantir a diversidade e igualdade de oportunidade. Um bom indicador é a diversidade cultural dos seus colaboradores, com origem nos PALOP, países de leste, Índia, Libéria, Paquistão e Venezuela, entre outros.
Já em 2003, o Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, integrando as actividades da sua presidência aberta dedicada à imigração e minorias étnicas, visitou as instalações da empresa e reconheceu as suas boas práticas.
![](/fotos/editor2/casos_estudo/5_108.jpg)
No que se refere à igualdade de género, as práticas de gestão são as mesmas para mulheres e homens, nomeadamente: igualdade no processo de recrutamento, remuneração, plano de carreiras e acesso à formação, classificação de funções neutra e igualdade de direitos na licença de maternidade e paternidade.
Foi distinguida em 2007 com o prémio "Igualdade é Qualidade”, promovido pela CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego) e é uma das nove empresas a nível nacional que colaboram no projecto Diálogo Social e Igualdade nas Empresas, que tem como objectivo "a demonstração exemplificativa de boas práticas e da forma como têm sido encontradas soluções de sucesso”.
No início de 2008, a convite do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, a Somague participou em duas sessões no âmbito das prioridades do Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013 (QREN), nomeadamente na promoção da qualificação dos portugueses e da coesão social.
Gestão AmbientalO sector da construção está associado a importantes impactes ambientais. Para atenuar este facto, a Somague formulou em 2002 uma Política Ambiental e tem vindo a implementar práticas que promovem a redução dos impactes ambientais e a monitorização dos resíduos produzidos e dos consumos. Actualmente, conta com diversas empresas participadas cujos sistemas de gestão ambiental se encontram certificados segundo a ISO 14001:2004.
No estudo recentemente publicado "Responsabilidade Climática: Índice ACGE 2007”, destacou-se de entre as empresas avaliadas do sector da construção.
Diálogo e CooperaçãoA definição de estratégias de liderança com base na auscultação das partes interessadas, acerca da sua percepção, satisfação e expectativas, assume particular relevância para a Somague na prossecução da actividade para maiores níveis de performance. Neste diálogo, faz uso das seguintes ferramentas: intranet "Snet” e website www.somague.pt, newsletter Soma e Segue, brochuras institucionais, gabinetes de atendimento ao público, visitas organizadas a obras, relações com a imprensa, publicação de livros e participação em eventos.
São também importantes as iniciativas de carácter social, ao nível local e global, pelo que apoia causas sociais, culturais e desportivas por meio de serviços prestados ou de financiamento (patrocínios, donativos e probono) e, pelas suas capacidades técnico-económicas, participa na construção de importantes infra-estruturas para as comunidades onde actua.
Coopera com diversas organizações, tais como a Associação EPIS – Empresários pela Inclusão Social, UNICEF, FUNDEC, as Fundações de Serralves, Casa da Música, Portugal África e a Fundação Universidade Católica Portuguesa e com diversas Câmaras Municipais. Como membro fundador da EPIS, participa no programa "Economia para o Sucesso”, apoiando colaboradores que, de modo voluntário, se deslocam a escolas, procurando ajudar no combate ao insucesso e abandono escolares.
![](/fotos/editor2/casos_estudo/7_108.jpg)
Ainda no âmbito da disponibilização das suas competências ao serviço da comunidade, requalificou o espaço comercial onde opera o Banco de Bens Doados e tem contribuído no projecto da Câmara de Loures "Memórias que ajudam a crescer”, que consiste na criação de um espaço para creche e lar de idosos.
Não é apenas em Portugal que a empresa procura cooperar com instituições de desenvolvimento social. Por exemplo, em Angola, um país promissor, mas que ainda apresenta muitas carências a diversos níveis, ofereceu a reabilitação e apetrechamento de escolas (Maianga, Viana, Kilamba Kiaxi e Bom Jesus) e reconstruiu as áreas de acolhimento em Viana, para vítimas das cheias. Também em Cabo Verde, tem financiado eventos culturais e apoiado a formação de crianças oriundas de famílias problemáticas.
No âmbito da sua estratégia para o desenvolvimento sustentável, promove ainda relações com entidades que actuam em diversas vertentes: inovação, sensibilização empresarial, associações industriais e do sector, desenvolvimento económico, entre outras. Além do projecto realizado com a COTEC, destaca-se a sua participação em diversos projectos do BCSD Portugal (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável): Young Managers Team, Construção Sustentável e Simbioses Industriais. Colabora também em conferências, como por exemplo no seminário "Túneis e Obras Subterrâneas em Portugal”, com uma apresentação centrada na obra da Linha Vermelha – Alameda/S. Sebastião do Metro de Lisboa, e no XVII Congresso da Ordem dos Engenheiros subordinado ao tema "A Internacionalização da Engenharia Portuguesa”.
Crescimento Sustentável em Contextos Antagónicos ![](/fotos/editor2/casos_estudo/8_108.jpg)
As boas práticas de gestão da Somague, das quais se apresentou uma súmula, levaram ao seu reconhecimento como uma organização socialmente responsável. Em 2008, foi distinguida com o Prémio Sustentabilidade do "Jornal Construir” e tem ficado bem posicionada em diversos estudos desenvolvidos por entidades de referência. Também a nível internacional tem tido particular relevância esta forma de agir. Nos países europeus onde abriu sucursais, Espanha e Irlanda, esta actuação tem permitido superar os desafios com que se tem deparado. Nos países em desenvolvimento onde também se encontra presente, mas não há ainda o grau de exigência da Europa, esta cultura de sustentabilidade – em particular no campo da responsabilidade social – tem igualmente trazido os seus frutos. Nestes países, a actuação responsável da Somague tem sido louvada pelos Donos de Obra, encarada pela sociedade local como digna de ser seguida e dada como exemplo pelas autoridades.
Miguel Galvão Teles Tomé| Engenheiro Civil, Director QSA e IDI da Somague Engenharia