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ESPAÇO DE OPINIÃO: A Construção e a Gestão de Projetos em Portugal

28 de Setembro de 2020 | Geral







"A gestão adequada e integrada dos projetos de construção é crucial para responder às necessidades e desafios crescentes da indústria, que pode - e deve - beneficiar de melhor value for money”, diz Bruno de Carvalho Matos, Membro Sénior do Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Civil.



O setor da construção e imobiliário é um dos mais importantes drivers da economia portuguesa, contribuindo para mais de 15% do PIB, cerca de 50% do investimento e 10% do emprego. O investimento público e privado, nomeadamente em projetos complexos e de larga escala, tem representado uma crescente exigência de requisitos a cumprir, que reclamam standards e qualificações adequadas para a sua gestão.

Por outro lado, a construção é uma indústria altamente fragmentada e com várias questões ao nível da produtividade, qualidade, segurança, mão-de-obra, inovação e desenvolvimento, pelo que as empresas portuguesas devem incrementar a sua proposta de valor, adotando estratégias de diferenciação significativas, eficazes e sustentáveis, para as quais o investimento, a formação e a qualificação são fatores chave. 

À luz do investimento estrangeiro em ativos imobiliários e objetivando o sucesso dos projetos, a tendência tem sido para os clientes procurarem soluções integradas de gestão, desde a fase de consultoria até à entrega final do projeto, recorrendo a entidades independentes, especializadas e certificadas, com experiência local. De entre os tradicionais vetores da gestão de projetos (the project management double triangle - âmbito, custos, prazos, recursos, qualidade, risco), assegurar o melhor value for money, os limites orçamentais e a adequada identificação e análise dos riscos tem assumido crescente relevância para a gestão dos projetos de construção.

Por definição, os gestores de projeto devem acompanhar todo o ciclo de vida do projeto, promovendo a integração da sua cadeia de valor. Contudo, tipicamente estão mais envolvidos nas fases de pré-construção ou construção, sem participação relevante nos estudos de viabilidade e na pós-construção. Tal propicia falhas de continuidade e previne a aplicação homegeneizada de processos nas várias etapas do projeto, conduzindo frequentemente a ciclos de vida adaptativos, ou seja, em que são fixados custos e prazos, mas o âmbito é definido à medida que o projeto avança. 

Os gestores de projetos de construção são, em grande número, engenheiros civis com formação complementar em gestão, o que, embora por princípio possa ser apropriado, não prescinde da adequada experiência em projeto e construção e do entendimento sobre as funções necessárias para desempenhar o seu papel como gestores de projeto. 

A diversidade de projetos e stakeholders na cadeia de valor da construção, juntamente com a escassez de standards oficiais e geralmente aceites na indústria, favorece a adoção de abordagens diferentes entre projetos e, por vezes, entre fases do mesmo projeto, incrementando assim o risco de erros e a dificuldade em comparar ativos, custos de projeto, desempenho e potenciais investimentos. 

O atual panorama enleva a importância da gestão de projetos na promoção das melhores práticas e qualificações profissionais na indústria da construção portuguesa, que se quer cada vez mais eficiente e competitiva no mercado global. Neste sentido, existe também espaço para instituições internacionais como o RICS, PMI e IPMA demarcarem a sua posição neste setor, proporcionando benefícios como: certificação global; acreditação e reconhecimento; standards globais; formação avançada; rede de conhecimento mundial; e experiência.

Há, assim, uma oportunidade emergente para os gestores de projeto na construção portuguesa, fundada em formação, qualificação, regulação e standards, e capitalizada sobre o seu papel integrador e experiência em coordenação, colaboração e comunicação. Os gestores de projeto podem – e devem – também assumir um papel líder em iniciativas de inovação e desenvolvimento, contribuidoras para um ambiente construído mais resiliente e sustentável, desbloqueando o potencial da transformação digital, economia circular e indústria 4.0. 

A adequada incorporação do papel do gestor de projetos permitirá ao setor da construção e à economia portuguesa ultrapassarem alguns dos seus maiores desafios e beneficiarem de melhor value for money. A indústria deverá perguntar-se a si mesma: quais são os custos de oportunidade de não gerir e entregar projetos da forma mais acertada?


Saiba mais sobre o tema no artigo desenvolvido pelo autor Project Management in the Portuguese Construction Industry




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