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Autarcas debatem mobilidade urbana na Ordem dos Engenheiros

28 de Junho de 2023 | Geral, Engenharia do Ambiente


 

A Ordem dos Engenheiros (OE) realizou, no passado dia 26 de junho, um jantar-debate dedicado ao tema "Pensar a mobilidade urbana: metros e cidades".

Os Presidentes das Câmaras Municipais de Lisboa, Braga e Coimbra, respetivamente Carlos Moedas, Ricardo Rio e José Manuel Silva, foram oradores nesta sessão, que contou com a moderação de José Mendes, Presidente da Fundação Mestre Casais e anterior Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente. 

O Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, José Delgado, que participou neste debate, reforçou que "só através do trabalho conjunto entre Governo e todos os outros intervenientes podemos ser verdadeiramente eficazes nas decisões e estratégias que tomamos e que têm impacto na vida de todos”.

O Bastonário, Fernando de Almeida Santos, recordou que a Ordem dos Engenheiros tem vindo a insistir no debate e na sensibilização de todos os agentes, porquanto a Ordem tem dedicado boa parte das suas atividades à temática, ao longo dos últimos anos. Na sua intervenção, Fernando Almeida Santos recorda que "a Engenharia está na base das infraestruturas e projetos que permitem grande parte das decisões de mobilidade. Por essa razão, é fundamental estarmos aqui hoje a debater este tema com três das principais Câmaras do país. É indispensável a troca de ideias e projetos para que todos possamos evoluir neste âmbito”.

Para Carlos Moedas, numa cidade como Lisboa, a mobilidade começa com uma questão básica de engenharia: "preparar a cidade, que regista 545 mil habitantes, para receber todos os dias quase outro tanto”, chegando diariamente a mais de 1 milhão de pessoas. "Estarmos preparados para um movimento pendular enorme” é um grande desafio. O autarca lisboeta refere mesmo que "uma das soluções passaria por ter, por exemplo, na A5, uma faixa apenas para transportes públicos, ou vários parques de estacionamento dissuasores localizados à entrada da cidade”. O responsável acredita que as alterações em termos de mobilidade terão de ser introduzidas de forma gradual. "Há muita gente a olhar para a mobilidade de forma disruptiva, o que causa entre as pessoas uma animosidade grande”.

A procura pelos transportes públicos em Lisboa duplicou com a introdução da gratuitidade para os mais jovens e para os seniores, referenciou Carlos Moedas, registando atualmente cerca de 160.000 utilizadores. Integrar a GIRA nos passes tem sido também uma forma de trazer mais pessoas para os transportes públicos, registando, com isso, ganhos, embora ainda reduzidos, em termos ambientais.
O mais relevante é que "estas mudanças não sejam partidárias e ideológicas, mas sim alicerçadas no facto de estarmos todos concentrados na luta climática”, enfatizou o responsável.

Ricardo Rio recorda que Braga é a sétima maior cidade do país e a terceira em termos de desenvolvimento, tendo registado nos últimos anos um grande crescimento populacional. Isto conduz a que "o fluxo de trânsito funcione hoje de forma inversa em termos de percurso, uma vez que vemos mais trânsito a chegar de Porto a Braga do que no sentido contrário”, avança o autarca, "existindo um afluxo diário de viaturas muito grande, na ordem das 100.000 a entrar e a sair diariamente da cidade".
Braga tem uma zona pedonal bastante alargada, no entanto "também tem verdadeiras avenidas onde se registam velocidades muito elevadas, o que nos coloca um grande desafio em termos de intervenção e de soluções que alterem esta realidade”. 
Ricardo Rio refere ainda que renovar a frota de transportes públicos, alargar o serviço e reduzir os preços é o caminho a seguir.
"Em Braga temos uma rede de transportes 100% pública, que já começou em 2013 com um conjunto de melhoramentos, quer ao nível da frequência, quer de mais linhas”, aponta o autarca bracarense, sendo que "entre 2013 e 2019 fomos a única empresa que cresceu de forma sustentada, sempre com uma política de estabilidade ou de redução tarifária”.
Para Braga, o sistema de metro mostra-se pouco viável técnica e economicamente, pela que a cidade está a avançar com o novo sistema de Bus Rapid Transit (BRT), com a promessa de eliminar "autoestradas urbanas”.
Ricardo Rio afirma ainda ser "preciso fazer uma rotura com a perceção de menorização da utilização de transportes públicos, de que são só para quem tem dificuldades económicas e sociais. É necessário dar-lhes um ar sexy, de eficiência, conforto e modernidade”.

José Manuel Silva acredita, por seu turno, ser necessário "desconcentrar o país e a quantidade de pessoas que é obrigada a vir para Lisboa para trabalhar. É preciso uma desconcentração das instituições pelo país, e com isso a acontecer podemos resolver os problemas de mobilidade”. 
Em Coimbra, a mobilidade está a mudar muito com a introdução da mobilidade elétrica e da mobilidade suave, que nos permite ultrapassar a orografia da cidade. Neste momento temos muitas ciclovias de lazer e poucas de trabalho, temos essa noção, no entanto já estamos a trabalhar nesse sentido”. Por outro lado, o Metrobus, cujo funcionamento em pleno está previsto para o fim de 2024, permitirá alargar a oferta e aumentar a qualidade do serviço de transportes, para além de conduzir a poupanças ao nível das emissões de dióxido de carbono que equivalem a 750 mil árvores por ano, quase 20 mil toneladas de dióxido de carbono por ano.
"O facto de termos um transporte coletivo completamente eletrificado, com vias dedicadas e prioridade nos cruzamentos, trará uma nova dinâmica à cidade. A par, irá ainda existir a sua ligação à futura estação intermodal de Coimbra, o que constituirá uma verdadeira estação central, ainda complementada com parques de estacionamento periféricos e acomodando também a alta velocidade”, identificou o Presidente, tendo avançado com a suspensão para breve das linhas Coimbra A e B para que se inicie a intervenção com vista à utilização desse canal pelo Metrobus.
Para José Manuel Silva "esta realidade vai mudar radicalmente a mobilidade da cidade. Estamos já a assistir a um crescimento com a instalação de novas empresas, que têm trazido novas oportunidades e mais emprego. Pretendemos ainda evoluir com o Metrobus até Condeixa e Cantanhede para que Coimbra se ligue a toda a periferia de Coimbra”.

No jantar-debate foi ainda debatida a possibilidade de equacionar medidas mais musculadas no centro das cidades para a restrição da circulação automóvel, nomeadamente a eliminação do estacionamento e a criação de portagens urbanas. Carlos Moedas afirmou que o caminho não deve ser pela proibição, mas pela gradualidade das medidas. Em Lisboa, por exemplo em parceria com a Waze e a Google, os condutores são desviados para a 5.ª circular, evitando assim a circulação na Baixa da cidade sempre que esse não seja o seu destino. 

No final da noite, todos os intervenientes concordaram que não é pela coercividade que será possível otimizar a mobilidade, mas pelo trabalho conjunto, pela criação de alternativas e opções que constituam uma mais-valia para os cidadãos e para as cidades. 

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